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quinta-feira, 10 de março de 2011

Personal trainer pra quê?

Revista Época 3 de março de 2011

(Francine Lima escreve às quintas-feiras)

Você é fisicamente educado?

Vejamos o que aprendeu na infância, nas aulas de educação física. As atividades estavam voltadas para o desenvolvimento das habilidades motoras, certo? Brincadeiras com bolas, bancos, cones, pneus e muita gritaria eram a tônica das aulas. Ali seu corpo experimentou um bocado de movimentos, e você foi ensinado a se comportar com relação aos colegas, houvesse ou não competição. Muito bem. Mas por acaso você aprendeu a classificar o metabolismo energético como glicólise, beta-oxidação ou ATP? Aprendeu quantas repetições de quais exercícios fazem crescer os músculos ou queimar gordura? Saiu da escola sabendo como administrar a quantidade de séries, o tempo e a sobrecarga nos treinos para ter os resultados desejados? Não só não aprendeu nada disso, como não sabe do que estou falando? Pois há educadores propondo que as crianças aprendam esse tipo de coisa ainda no ensino fundamental e não dependam de um personal trainer no futuro.

A professora Fabia Antunes, uma das autoras da proposta, publicada na Revista Brasileira de Educação Física e Esporte no ano passado, acredita que a educação física escolar deve servir não só para educar o físico, mas também a cabecinha das crianças. Na visão de Fabia, hoje a meninada já vive numa cultura que valoriza o corpo. Eles frequentam academias, querem ficar fortes e sarados, e muitos adolescentes já usam esteroides anabolizantes para conquistar rapidamente seus objetivos estéticos, ignorando os riscos que isso representa para a saúde. Se eles soubessem exatamente o que acontece no corpo deles ao longo do seu desenvolvimento, sugere Fabia, poderiam desde cedo tomar as decisões certas.

O artigo de Fabia, escrito em conjunto com o professor Luiz Dantas, da USP, procura estabelecer quais conteúdos deveriam ser incluídos nas aulas de educação física do ensino fundamental para as crianças terminarem a escola mais espertas com relação ao seu corpo. Ou seja, mais fisicamente educadas. Em primeiro lugar, sugere o artigo, elas deveriam ser capacitadas para refletir sobre conceitos ligados ao corpo e à cultura esportiva. Por exemplo: de onde vem o ideal de beleza da nossa sociedade atual, e qual influência ele exerce sobre os jovens? Como cada um se sente em relação ao seu corpo, às suas habilidades, e como isso interfere na autoestima? Por que o futebol é o esporte mais valorizado em nosso país? Qual o motivo para meninos normalmente não gostarem de balé?

Além de refletir sobre questões culturais, o estudante deveria, por exemplo, apropriar-se do conceito de frequência cardíaca e aprender a “manipular a intensidade do seu exercício físico de acordo com suas necessidades atuais e futuras; como, por exemplo, melhorar suas funções cardiovasculares, perder peso ou simplesmente usufruir com segurança de uma atividade prazerosa.”

Será que é papel da escola ensinar isso aos alunos? Será que esse aprendizado na escola hoje ajudaria a reduzir a quantidade de adultos com doenças cardiovasculares e obesidade em algumas décadas? Vamos supor que sim. Que, além de promover a educação alimentar, como começou a acontecer nos últimos anos, a escola assuma também a responsabilidade de ensinar as crianças a fazer os exercícios certos para ter o corpo que quiserem. Que, assim como aprendemos a ler, escrever e fazer contas simples como somar e subtrair, aprenderíamos também a “ler” e “calcular” as necessidades do nosso corpo, com condições de planejar as soluções que dependessem apenas de uma mudança de hábito. Que resultados teríamos no futuro?

Eu não sei em que medida os conteúdos da faculdade de educação física caberiam nas aulas feitas para crianças entre 10 e 15 anos, mas gosto de acreditar que um dia todo mundo saberá administrar as próprias condições físicas melhor do que a maioria de nós sabe hoje. Uma sociedade fisicamente bem educada seria provavelmente mais saudável, mais bonita e bem menos dependente dos serviços de “saúde”. Imagino que, se saíssemos da escola sabendo melhor como cuidar de nós mesmos, talvez menos pessoas precisassem ir ao médico para só então descobrir que estão precisando se exercitar mais ou fazer uma dieta. E você? Acha que as escolas deveriam ensinar as crianças a planejar seus exercícios, a ponto de elas se tornarem adultos independentes de treinadores físicos? O que você acha que um estudante de 15 anos deveria saber sobre atividade física? Traga suas ideias.

Secretaria da FIEP Recebeu e encaminha para conhecimentos

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