Procissão percorreu 3,6 km pelas ruas da cidade neste domingo, 14.
Trajeto foi marcado por homenagens a padroeira dos paraenses.
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Uma leve brisa refrescou a multidão que assistia emocionada a missa que antecedeu o Círio de Nazaré, em frente a Igreja de Sé, na madrugada deste domingo (14), em Belém. Após a bênção final, milhares de pessoas participaram da procissão, que percorreu cerca de 3,6 km pelas principais avenidas da capital paraense até a Basílica Santuário. Por onde passava, a berlinda com a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré foi louvada e recebeu homenagens dignas de chefe de estado.
Ainda estava escuro quando a estudante Brenda Andrade, 20 anos, chegou na praça Frei Caetano Brandão para acompanhar o Círio. A jovem carregava um pé de cera para pagar uma promessa. Ela conta que a virgem de Nazaré intercedeu por ela em uma causa considerada impossível pela medicina. “Na véspera do dia das mães do ano passado em torci o tornozelo, foi grave. No hospital, os médicos disseram que eu só voltaria a andar depois de dois anos”, explica Brenda. “Foi então que eu fiz a promessa: se ficasse boa, ia levar um pé de cera na procissão. Em outubro do mesmo ano eu já estava boa e pude pagar a promessa”, conta emocionada a estudante. “Foi ela que me curou, tenho certeza!”, afirma.
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Terminada a missa, o arcebispo metropolitano Dom Alberto Taveira conduziu a imagem peregrina até a berlinda para o início da romaria que, segundo a Diretoria da Festa, é a maior procissão católica do mundo. Os fiéis, que lotaram a praça em frente à Catedral, estenderam as mãos em sinal de devoção e entoaram o coro: “Viva Nossa Senhora de Nazaré!”.
Os promesseiros já aguardavam a berlinda chegar para atrelar a corda, símbolo da festa católica. Com o sol escondido entre as nuvens, Nossa Senhora de Nazaré foi a única a brilhar, todos os olhares estavam voltados para ela, todos os pedidos e todos os agradecimentos eram direcionados a ela.
No meio da multidão, uma promesseira chamava atenção pelo sacrifício. Cláudia Renata, de 29 anos, acompanhou a procissão de uma forma incomum, andando com as mãos e os joelhos no chão. A devota explica o comportamento com uma palavra: fé. “Agradeço pela saúde dos meus filhos, passamos por um período de muitas doenças e graças a Nossa Senhora agora estamos bem”, afirma a promesseira.
Para que Cláudia conseguisse pagar a promessa, outras pessoas ajudavam, colocando papelão no caminho da devota para aliviar a dor. No Círio, há quem pague sua promessa ajudando os outros a cumprirem as suas. “Prometi que distribuiria 1.200 copos de água no Círio se a minha filha passasse no vestibular. Ela foi aprovada no curso de direito. Há 4 anos pago a promessa e vou continuar fazendo para sempre”, conta a gerente comercial Ana Cláudia, de 41 anos.
Mais 2 milhões de pessoas disputavam um espaço no trajeto da procissão. Alguns cortavam caminho por ruas paralelas para ver a santa passar. E por onde passava a berlinda, olhos marejados e mãos estendidas para receber as benções. Devotos de todas as idades, etnias e classes sociais se juntam com um mesmo objetivo, homenagear Nossa Senhora de Nazaré.
Ermito Guimarães, 46 anos, participou da romaria acompanhado da família. Assim como muitos, ele levava a miniatura de uma casa na cabeça. “Estava desempregado e precisava construir a minha casa. Fiz a promessa e consegui um emprego, que possibilitou a construção da minha casa”, afirma orgulhoso Ermito. Já Eliana Leal de Melo, 68 anos, acompanhou a procissão vestida com uma mortalha, uma vela de metro de altura e um coração feito de cera. Ela acredita que a mãe de Jesus a curou de um problema de saúde.
“Precisava operar o coração e, se eu saísse boa, iria acompanhar a procissão desta forma. E assim faço há 10 anos”, conta Eliana, que faz o trajeto ao lado das filhas.
Homenagens
Várias homenagens marcaram o caminho que a imagem peregrina faz por Belém. Cerca de 15 demonstrações de carinho e fé são tradicionais no trajeto do Círio de Nazaré. Os fogos dos pescadores do Ver-o-Peso e dos Estivadores deram início às homenagens, que seguiram pela avenida Presidente Vargas.
Uma das homenagens mais marcantes foi realizada por um banco. Com a chegada da berlinda em frente a empresa, uma chuva de pétalas de rosas nas cores branca e amarela caiu sob a berlinda e os peregrinos que a acompanhavam. A cantora Joanna deixou os fiéis emocionados com o hino “Maria de Nazaré”.
“É um sentimento indescritível. Em nenhum lugar do mundo vemos isso. Quando ela passa, é difícil segurar... O que mais emociona é ver essa fé inabalável, gente feliz, o coração feliz!”, explica Joanna.
Promesseiros da corda
Cerca de 7 mil devotos acompanharam a corda do Círio, um símbolo da procissão que conecta os devotos e a berlinda que carrega a imagem de forma umbilical. Caminhar na corda é sacrificante, e com fé inexplicável e aparentemente inabalável aquelas pessoas ganhavam força a cada minuto para puxar a corda da berlinda e fazer a procissão caminhar até o seu destino.
Rostos suados e aparentemente exaustos não condiziam com a força no braço dos fiéis, que erguiam a corda e
cantavam com uma alegria de deixar quem assistia a cena de olhos marejados. Ao final, um sutil sorriso no rosto dos devotos expressava a sensação de dever cumprido. A campanha pelo não corte da corda foi cumprida, a corda que puxou a berlinda só foi cortada no momento exato, a poucos metros antes do destino final. Os promesseiros levam um pedaço da corda para casa. Para guardar de recordação deste momento especial junto à virgem de Nazaré.
Após 6 horas de procissão, por volta das 12h30, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré chegou a Praça Santuário, em frente a Basílica. O coordenador da festa retirou a pequena imagem da berlinda e a entregou ao arcebispo auxiliar, Dom Theodoro, que a conduziu, em um tapete vermelho, até o altar da praça, onde é realizada uma missa encerrando o Círio de Nazaré 2012.
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