Em sua última participação em Jogos Olímpicos, russa fica apenas com o bronze e cubana conquista a prata. Atleta pretende parar em 2013
De um dia para o outro Yelena Isinbayeva já não parecia tão ameaçadora assim. A rainha do salto com vara tinha dificuldade para ultrapassar o sarrafo, caía diante das adversárias e sequer chegava ao pódio. Já chorava mais do que ria, já duvidava mais do que confiava. Nem ela mesma se reconhecia. Descobriu que não era a máquina que pensava. Durante dez anos de domínio, as mesmas adversárias, as mesmas competições e as mesmas medalhas comeraçam a fazer o esporte perder a graça para ela. Precisava de um período sabático.
Em nova fase, conseguiu em fevereiro o recorde mundial indoor e mostrou estar disposta a se despedir das Olimpíadas com sua coroa intacta e um tricampeonato. Mas não conseguiu. A única mulher do planeta que se cansou de saltar 5,00m parou nos 4,70m. O adeus foi com um bronze e vendo a americana Jennifer Suhr levar a medalha que tanto queria com 4,75m. A cubana Yarisley Silva ficou com a prata.
Ao fim da prova nos Jogos de Londres, enquanto as rivais choravam, Yelena sorria. Se aproximou para dar um abraço nas duas e partiu com elas para a volta olímpica. A última da carreira. Cada uma correu com sua bandeira, e Yelena parecia ser a mais feliz das três.
- Estou realmente feliz. É como uma medalha de ouro para mim. Tem acontecido um monte de coisas que nos últimos três anos me desapontaram. Eu acho que esse bronze me diz algo como: "Yelena, não pare", como eu planejei parar depois de Londres. Não sei sobre o Mundial de Moscou, em 2013, mas é claro que vou estar lá de qualquer maneira. Gostaria de descansar um pouco agora e, por agora, nada sei. Estou contente que as Olimpíadas tenham terminado pois foram muito desgastantes - disse.
Em sua última apresentação nos Jogos, a russa de 30 anos se comportou como de costume. Deixou que as rivais fizessem as honras da casa, enquanto ela seguia sentada no chão. Um boné, um capuz e uma toalha na cabeça eram a redoma da bicampeã. Vez ou outra, saía da posição só para dar uma espiadinha. Esperou o vento passar e, após pouco mais de uma hora de prova, foi para a pista. Errou a primeira tentativa a 4,55m. Desistiu da segunda e resolveu tentar logo 4,65m. Não teve problemas. Com o sarrafo a 4,70m, partiu para a corrida em quarto lugar. O anúncio feito pelo narrador não demorou nem 5s para ser corrigido. Passou com sobras e assumiu a liderança.
O problema é que Suhr e Yarisley também continuavam na briga. Era hora de superar 4,75m. Uma moleza em outros tempos. Duas tentativas, dois erros. A segunda queda no colchão a fez respirar fundo e balançar a cabeça. Estava pressionada. As adversárias tinham acertado. Agora era Isinbayeva contra Isinbayeva. Precisava lembrar das palavras do técnico Yevgeny Trofimov, o primeiro de sua carreira e para quem voltou no momento difícil. Lembrar que ainda tinha o poder, que era a mesma Yelena Isinbayeva de sempre. Resolveu ir para o tudo ou nada. Sarrafo a 4,80m. Os olhos já não tinham mais uma expressão tão confiante. Ela não podia errar. Correu, saltou e fez o estádio lamentar. O ouro já não era mais dela. Com um aceno e um sorriso, a dona de 28 recordes mundiais que nos seis saltos que fez nesta segunda acertou apenas dois, agradeceu o apoio e foi acompanhar o fim da disputa.
Suhr falhou nas três tentativas e cruzou os dedos para que a cubana também errasse a sua última. Deu certo. A vice-campeã olímpica de Pequim-2008, que em seu último ano na faculdade de Psicologia foi a cestinha do time de basquete, subiu um degrau.
- Comecei em 2004 e ter isso aqui é mágico. Precisei ter muita força, dedicação e força mental. É realmente de perder o fôlego, é algo tão emocionante que não consigo descrever. Eu e meu marido (que também seu treinador) conseguimos manter a fé, superar lesões e trabalhar juntos para conseguir esse objetivo. É incrível - afirmou a medlhista de ouro.
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