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segunda-feira, 28 de março de 2011

Mostra aproxima Benedito Nunes de Platão

“Dizem que aprendi a ler com quatro anos de idade. Mas minha primeira leitura deu-se um pouco mais tarde. O livro foi-me presenteado por um mendigo já idoso, barba branca. O velho retirou de sua tosca sacola um pequeno livro, capa dura, de cor esverdeada: A Caçada da Onça, de Monteiro Lobato”. O episódio com jeito de enredo narra o começo da relação de Benedito Nunes com a paixão que moveu suas oito décadas de vida: os livros.

Leitor incansável, o professor, crítico e filósofo manteve uma estreita relação com um cômodo especial de sua casa. “Eram da estante de casa, alta, de madeira amarela envernizada, cinco prateleiras, com discretos ornamentos florais gravados, e um gavetão na parte inferior. Pertencera a meu pai, que não conheci. Estava abarrotada de Machado de Assis, José de Alencar, Eça de Queiroz, Shakespeare em volumes portugueses, Monteiro Lobato para adultos, Joaquim Nabuco”, relembrou Benedito sobre suas memórias de infância, em histórica entrevista concedida ao jornalista Lúcio Flávio Pinto, em 1991, intitulada “Roteiro de livros de um sábio paraense”.

A preciosa conversa será distribuída em folhetos aos visitantes na semana de homenagens ao mestre paraense, falecido no fim de fevereiro, na exposição “Encontro de Benedito Nunes e Platão”. A mostra, em cartaz no hall da Biblioteca Central da UFPA, campus Guamá, comemora o Dia do Bibliotecário e segue em exibição até o fim do mês, 31 de março, com entrada franca.

CONEXÃO

Ao aproximar o pensador da Antiguidade Grega e o pensador moderno, a mostra revela a importância do legado intelectual entre as gerações, ponto reconhecido por Benedito. “O primeiro [livro] de impacto que li foi a Odisséia de Homero, em tradução de meu tio, Carlos Alberto Nunes, num metro longo, inabitual, para imitir o ritmo do original grego. Esse tio, fixado em São Paulo, que muito mais tarde traduziria Shakespeare, Goethe, Platão e Virgílio para o português, mandava-me muitos livros, quase todos de presente que vieram chegando, ano após ano, por via marítima, em pacotes do Correio”, contou o filósofo ao jornalista sobre a influência direta e decisiva de seu tio em seus primeiros anos de formação intelectual. E o médico Carlos Alberto Nunes também se faz presente na exposição, como elo importante entre Benedito e Platão.

A mostra traz, pela primeira vez ao público, os manuscritos dos seis volumes traduzidos para o português da obra completa de Platão. O minucioso trabalho foi feito por Carlos Alberto, que cedeu os direitos de publicação à UFPA como a primeira tradução da obra realizada diretamente do grego para o português.

“As edições em grego e em latim, e a edição príncipes feitas pela UFPA, vieram da sessão de obras raras do cofre da universidade, e nunca estiveram abertas ao público em 40 anos, quando nos foram doadas”, explica Maria das Graças Pena, diretora da Biblioteca Central da UFPA.

Edições publicadas pela UFPA de toda a bibliografia do filósofo paraense integram a mostra, assim como uma série de imagens de Benedito Nunes em visitas à biblioteca da academia, recontando a contribuição do mestre para a formação da primeira turma de bibliotecários do Pará. “Benedito ministrou disciplinas para os primeiros alunos do curso de Biblioteconomia, na década de 1960”, conta Pena. A sessão de fotos traz ainda registros de outros momentos marcantes, como José Mindlin, importante bibliófilo brasileiro, em visita à biblioteca da UFPA em 1999.

VISITE

Exposição “Encontro de Benedito Nunes e Platão”, no hall da Biblioteca da UFPA, campus Guamá, em cartaz até 31 de março, de 8h às 20h, com entrada franca. Informações: 3201-7110/7140. (Diário do Pará)

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