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segunda-feira, 6 de abril de 2015

Contação de histórias.

Sobrou pra mim...
Conto de Ruth Rocha, ilustrado por Suppa


Quando eu tinha uns 8 anos, mais ou menos, eu morava com minha avó e com a irmã dela, tia Emília. Nossa rua era sossegada, quase não passava carro nem caminhão. 

Eu ia à escola de manhã e de tarde eu fazia minhas lições e ia pra rua brincar com meus amigos.

Às cinco e meia em ponto minha avó me chamava para tomar banho e rezar, minha avó e minha tia rezavam todas as tardes às seis horas. 

Depois do jantar ficávamos na sala, eu, lendo, minha avó e minha tia bordando ou costurando. 

Televisão a gente só via uma vez ou outra. Minha avó me deixava ver jogos de futebol ou basquete, mas tinha horror a novelas e a programas de auditório. Era chato de matar! 

A luz era muito pouca, que a minha avó tinha mania de fazer economia, ela dizia que não era sócia da Light. 

Então eu cansava de ler e ficava inventando outras coisas pra fazer. Eu ficava desenhando, ficava enchendo os ós do jornal, brincava com as minhas joaninhas… 

Uma vez eu amarrei um fio de linha na perna de um besouro e quando ele voou, com o fio pendurado, minha tia levou o maior susto. 

Uma outra vez, eu inventei uma coisa legal! Enquanto minha avó e minha tia ficavam rezando, às seis horas, eu amarrei um fio de linha na perna da cadeira de balanço. Depois do jantar nós fomos para a sala. Então, de vez em quando, eu puxava o fio e a cadeira dava uma balançadinha. 

No começo elas não viram nada. Até que tia Emília, muito assustada, chamou a atenção da vovó.

- Ó, Amélia - minha avó se chamava Amélia - Ó, Amélia, você não viu a cadeira balançar? 

Minha avó não ligou muito. Mas tia Emília ficou de olho. Daí a pouco ela cutucou minha avó: 

- Olha só, Amélia, ainda está balançando. Minha avó olhou e ficou desconfiada. 

As duas se olharam e fizeram sinais para não assustar o menino… 

Naquele dia, eu não mexi mais na cadeira. Mas no dia seguinte, eu fiz tudo de novo, só a minha tia é que viu a cadeira balançar. Ela estava apavorada! 

Então eu deixei passar uns dois dias e de novo dei uma balançadinha na cadeira. E dessa vez as duas velhas viram! Gente, que susto que elas tomaram! Me agarraram pela mão e correram para o oratório para rezar. 

Até aí eu estava me divertindo! Mas o que eu não podia imaginar é que no dia seguinte, na hora em que eu costumava ir para a rua brincar, minha avó me chamou, me mandou tomar banho, me vestir e me levou para a igreja. 

Nove segundas-feiras eu tive que ir à igreja com minha vó e minha tia para rezar pelas almas do purgatório!  

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