Hipertensão mal tratada pode causar insuficiência renal
Veja como pressão arterial elevada prejudica a saúde dos rins
A relação entre a
hipertensão
arterial e a saúde dos rins é um binômio extremamente importante, pois a
hipertensão arterial pode prejudicar a saúde dos rins ou os rins serem
responsáveis pelo aumento da pressão arterial. Classicamente dizemos que
os rins são vítimas da ou culpados pela hipertensão arterial.
A pressão arterial nada mais é do que uma força física através da
qual o sangue bombeado pelo coração ?caminha? por uma via (artérias)
para levar os suprimentos necessários aos órgãos. Quando a pressão está
aumentada (hipertensão arterial) a força que o coração precisa fazer
para bombear o sangue é maior, pois a via (artérias) está menos
complacente, isto é, as artérias oferecem maior resistência à passagem
do sangue. Esta força maior que ?empurra? o sangue para frente resulta
em lesões na parede das artérias, e essa lesão acomete todas as
artérias, de calibre grande ou pequeno (arteríolas).
Isso vale para os rins
também. Frente à elevação da pressão (hipertensão arterial) as artérias e
arteríolas renais são acometidas, resultando em perda progressiva da
função excretora do órgão. Em outras palavras, na medida em que os vasos
renais são lesados, ocorrem alterações na capacidade de excretar o
excedente de volume que deveria ser eliminado, bem como de algumas
substâncias (produtos do metabolismo). Então, se os rins deixam de
eliminar o volume excedente, este por sua vez, pode aumentar ainda mais a
pressão arterial.
É importante frisar que o comprometimento renal causado pela
hipertensão arterial ocorre de maneira lenta e insidiosa, portanto, não
se acompanha de sintomas ou sinais indicativos de que algum problema
renal está em curso. Este é sem dúvida o principal problema da
hipertensão.
Além disso, algumas populações de pacientes estão
sob maior risco de evoluir para a
doença renal crônica, e entre eles,
além da hipertensão em si, estão os idosos, os obesos (IMC > 30
kg/m2) e diabéticos (tipo 1 e tipo 2).
Não espere o aparecimento de sintomas ou
sinais que possam sugerir alterações nos rins, pois nesta circunstância
possivelmente o dano renal já se instalou
Assim, a falta de
controle da pressão arterial, do diabetes, dos níveis de colesterol e o
tabagismo contribuem não apenas para a piora da saúde dos rins, mas
também para uma evolução pior da doença renal crônica.
De que
forma então poderíamos rastrear a função renal para saber se está ou não
ocorrendo algum problema? Os exames iniciais utilizados para
rastreamento da função renal são a dosagem da creatinina e o exame de
urina tipo 1.
A creatinina é um produto da degradação das células
musculares, produzida em uma taxa praticamente constante. Quando os
rins estão funcionando normalmente, a creatinina é retirada do sangue e
eliminada pela urina, no entanto, quando a função renal está diminuída, a
creatinina não é excretada de forma adequada e seus níveis aumentam no
sangue, indicando que há algum problema na função dos rins.
Uma
maneira de estimar a função renal é através do cálculo da taxa de
filtração glomerular estimada (TFGe). Esta estimativa é feita a partir
de fórmulas propostas pelas diretrizes internacionais em nefrologia.
Assim, é considerado portador de doença renal crônica a pessoa que,
independente da causa, apresente por pelo menos três meses consecutivos
uma TFGe < 60ml/min/1,73m².
Outra forma de avaliar é pelo
exame de urina tipo 1. Minimamente o exame nos dará indícios da perda de
proteína (albumina) que também é um indicativo de alteração da função
renal, pois normalmente não há perda de proteína (albumina) pela urina.
Caso o exame mostre uma perda mais importante, podemos lançar mão de
outros exames para investigar melhor a quantidade de proteína (albumina)
perdida nas 24 horas e também avaliar os rins por meio de exames de
imagem como a ultrassonografia.
Em resumo, a hipertensão
arterial pode lesar os rins, e consequentemente comprometer a saúde
renal sem que tenhamos consciência desta situação, e desta forma, é
importante a determinação da creatinina e a realização de um exame de
urina em todos os hipertensos, pelo menos uma vez ao ano, para que se
possa detectar e/ou acompanhar a evolução desta doença que, como dito
muitas vezes, é silenciosa.
Para prevenir a evolução
da doença renal é fundamental o controle da pressão arterial. Assim,
para hipertensos e/ou diabéticos sem indícios de doença renal a meta
preconizada é abaixo de 140/90 mmHg e para pacientes diabéticos com
albuminúria é abaixo ou igual a 130/80 mmHg.
Além
disso, a adoção de medidas para modificação do estilo de vida como,
evitar o sobrepeso ou obesidade, reduzir a quantidade de sal na dieta,
ingerindo menos de 2g de sódio/dia (5 g/dia de sal de cozinha),
abandonar o tabagismo, evitar alimentos gordurosos e ter atividade
física regular, praticando 30 minutos/dia (150 min/semana) são medidas
extremamente importantes.
Como se pode ver, a saúde renal associada à hipertensão requer medidas
simples de rastreamento, modificações no estilo de vida e tratamento
contínuo da hipertensão para se atingir e manter o controle pressórico
adequado. Não espere o aparecimento de sintomas ou sinais que possam
sugerir esta alteração, pois nesta circunstância, possivelmente o dano
renal já se instalou e a próxima medida será evitar que ele progrida. Ao
nascermos temos um número já determinado de estruturas funcionais nos
rins, que uma vez perdida não será recuperada.
Referências
Diretrizes
Clínicas para o Cuidado ao Paciente com Doença Renal Crônica- DRC no
Sistema Único de Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Especializada e Temática. ? Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
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