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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Eu, o Boto!‏ Juraci Siqueira

EU, O BOTO

Eu venho de um mundo

que tu não conheces:

do onde, do quando,

do nunca, talvez...

Eu venho de um rio

perdido em teus sonhos,

um rio insondável

que corre em silêncio

entre o ser e o não ser.

Eu venho de um tempo

que os homens não medem:

nenhum calendário

registra meus dias.

Sou filho das ondas

que gemem na praia,

sou feito de sombras,

de luz, de luar

e trago em meu rosto

mandinga e mistério,

e guardo em meus olhos

funduras de rio.

Cuidado, cabocla!

Cuidado comigo

que eu sou sempre tudo

o que anseias que eu seja:

teus ais, teus segredos,

tua febre, teu cio...

Se em noites de lua

sentires insônia

e a fome de sexo

queimar tuas entranhas,

a sede de beijos

tua boca secar

e em brasa o teu corpo

meu corpo exigir,

contigo estarei

na rede do encanto

cativo nas malhas

da teia do amor.

E quando os teus olhos

fitarem meus olhos,

e quando os meus lábios

teus lábios tocarem,

e quando os meus braços

laçarem teu corpo,

e quando o meu ser

em teu ser penetrar,

só então saberás

quem sou e a que vim.

E assim que a semente

do amor, do desejo,

vingar no teu ventre

gerando outro ser,

não mais estarei

contigo, somente

a minha lembrança

permanecerá

boiando nas águas

barrentas, confusas,

da tua memória

cansada,febril...

Foi sonho? – Foi fato?

Ninguém saberá!...

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