Eu venho de um mundo
que tu não conheces:
do onde, do quando,
do nunca, talvez...
Eu venho de um rio
perdido em teus sonhos,
um rio insondável
que corre em silêncio
entre o ser e o não ser.
Eu venho de um tempo
que os homens não medem:
nenhum calendário
registra meus dias.
Sou filho das ondas
que gemem na praia,
sou feito de sombras,
de luz, de luar
e trago em meu rosto
mandinga e mistério,
e guardo em meus olhos
funduras de rio.
Cuidado, cabocla!
Cuidado comigo
que eu sou sempre tudo
o que anseias que eu seja:
teus ais, teus segredos,
tua febre, teu cio...
Se em noites de lua
sentires insônia
e a fome de sexo
queimar tuas entranhas,
a sede de beijos
tua boca secar
e em brasa o teu corpo
meu corpo exigir,
contigo estarei
na rede do encanto
cativo nas malhas
da teia do amor.
E quando os teus olhos
fitarem meus olhos,
e quando os meus lábios
teus lábios tocarem,
e quando os meus braços
laçarem teu corpo,
e quando o meu ser
em teu ser penetrar,
só então saberás
quem sou e a que vim.
E assim que a semente
do amor, do desejo,
vingar no teu ventre
gerando outro ser,
não mais estarei
contigo, somente
a minha lembrança
permanecerá
boiando nas águas
barrentas, confusas,
da tua memória
cansada,febril...
– Foi sonho? – Foi fato?
Ninguém saberá!...
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