Diversidade e premiação nas escolas de Belém
Escrito por Assessoria de Comunicação Social do FNDE
A merendeira Lídia Gomes da Conceição experimentou uma mudança radical em seus anos de trabalho na Escola Nazaré, na Ilha Grande, município de Belém do Pará. “Antigamente, vinha muito enlatado, almôndega, sardinha, salsicha”, conta. “Agora, vem mais natural, comida mais fresca, vem peixe, frango, carne, só filé (risos)”, diz.
O envio da alimentação escolar para as escolas nas ilhas que compõem o arquipélago de Belém exige uma complicada logística. A esses lugares, onde só se chega de barco, as viagens podem durar horas, dependendo das correntezas, das marés e das condições do tempo. A energia elétrica é fornecida por geradores. Geladeiras e freezers não são comuns. Não há estradas, rede de comércio ou transporte público. Nessas condições, o transporte e o manejo de alimentos frescos é um desafio.
Mesmo assim, o município comemora conquistas nessa área. “Em 2013, 37% da alimentação escolar veio da agricultura familiar”, conta o presidente da Fundação Municipal de Assistência ao Estudante de Belém (Fmae), Walmir Nogueira Moraes.
A lei estabelece que pelo menos 30% dos recursos repassados pelo FNDE para a alimentação escolar sejam destinados a agricultores familiares. Em Belém, eles entregam às escolas hortaliças, açaí e galinha caipira, entre outros produtos. “Em breve, passaremos a adquirir tucupi (molho fermentado) e outros derivados de mandioca da comunidade quilombola do Abacatal”, adianta Walmir.
Escassez de comida, porém, não é algo natural na Floresta Amazônica. Os alunos das escolas das ilhas de Belém são, em geral, de famílias de ribeirinhos extrativistas, que vivem entre pés de cupuaçu, açaí, pupunha, cacau e à beira de rios ricos em peixes e camarões. “Na época das safras, as crianças trazem frutas”, conta Lídia. No dia em que o FNDE visitou a escola, o professor Raimundo Cecílio Ferreira havia levado camarões recém-pescados por ele mesmo.
De acordo com as nutricionistas que dão assistência às escolas municipais, Denise Cruz e Priscila Lins, as maiores dificuldades encontradas por elas é introduzir cardápios mais equilibrados e diversificados e, ao mesmo tempo, valorizarem os pratos regionais. “As crianças das comunidades ribeirinhas são acostumadas com pouca diversidade na alimentação, baseada em mandioca, açaí e peixe”, conta Priscila. “Tudo isso é muito saudável, mas é preciso diversificar”, explica.
“Tem criança que no café da manhã toma açaí azedo com peixe frito”, conta a diretora da Escola Milton Monte, na Ilha do Combu, Maria Silene da Silva Teixeira. Ela desenvolveu uma série de técnicas para melhorar o hábito alimentar dos alunos. Uma delas é cultivar hortas – o que não é muito fácil num terreno que passa metade do ano debaixo d’água, o que exige que os canteiros sejam suspensos. “Plantamos de tudo que possamos usar na escola. É uma maneira de aproximar as crianças das verduras”, conta, enquanto oferece a sopa do dia: mandioca, abóbora, couve, caruru (quiabo), feijão verde, macarrão e carne bovina.
Os esforços por uma boa alimentação no município já renderam premiação para a capital paraense. Em 2013, Belém recebeu o Prêmio Gestor Eficiente da Merenda Escolar, concedido pela ONG Ação Fome Zero.
Segundo a diretora da Escola Honorato Filgueiras – uma das unidades de destaque na premiação –, Maria Divane de Brito Pereira, a qualidade da alimentação vem melhorando a cada ano. “Estou na escola desde 1995. A alimentação escolar melhorou bastante neste período”, avalia.
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