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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Obra de Eidorfe Moreira destacada no Orgulho.

Eidorfe Moreira transformou a geografia amazônica em filosofia. Converteu as questões locais, próprias do nosso território e cotidiano, em assuntos universais. Interpretou como poucos os enigmas da Amazônia, mesmo não sendo rebento legítimo de suas entranhas. Ainda assim, a obra desse grande humanista que nossa história acolheu permanece quase intocada. Desbravada por poucos, é um verdadeiro legado para a cultura paraense. E o projeto “Orgulho de ser do Pará”, através da coleção “Pará de Todos os Versos, Todas as Prosas”, tenta corrigir esta falha, ao reeditar um dos mais importantes trabalhos do autor, o livro “Sertão: a palavra e a imagem”.

Livro de 1959, Eidorfe dedicou “Sertão: a palavra e a imagem” a Euclides da Cunha. “Que me inspirou, quando ainda estudante, através das páginas memoráveis do seu grande livro, o amor e admiração às coisas sertanejas”, justificou na dedicatória do trabalho. A obra foi escolhida para integrar os dez títulos da série do DIÁRIO DO PARÁ por representar um marco essencial da vida do filósofo. Será o terceiro título publicado nesta fase do projeto, que começou no último domingo, 11 de dezembro, com “Antilogia”, de Ruy Barata.

“O sertão é um tema caro ao autor, tanto no aspecto geográfico quanto em seu sentido, podemos dizer, literário”, afirma Elias Pinto, coordenador de conteúdo da série. Eidorfe nasceu em 30 de julho de 1912, na cidade de Paraíba, hoje sob o nome de João Pessoa, capital do Estado da Paraíba. Antes de completar 2 anos de idade veio morar em Belém, onde morou, estudou e trabalhou até 2 de janeiro de 1989, quando morreu vítima de um colapso cardíaco. No ano de lançamento de “Sertão”, Guimarães Rosa, autor de “Grande Sertão: Veredas”, elogiou o trabalho do escritor.

“Recebi e li com sincera satisfação o seu Sertão / A Palavra e a Imagem - sério trabalho, lúcido, culto, agudo: uma verdadeira propedêutica sertanista”, Guimarães Rosa (20.07.1959)

Para Elias, “Sertão: a palavra e a imagem” é um exemplo da capacidade que Eidorfe tinha em caminhar por diferentes mundos do conhecimento, sem perder as habilidades necessárias aos múltiplos campos do saber.

“Há de se destacar a aliança do excelente pesquisador ao geógrafo no melhor sentido da palavra, conjugação que se expressa num texto ensaístico elegante, da mais alta qualidade, fixando aspectos sociológicos significativos de algumas regiões brasileiras e que toca nos fundamentos que constituíram a nossa própria nacionalidade. E isso tudo sem descuidar dos valores científicos que embasam o assunto. Aliás, se foi ao sertão, Eidorfe também foi ao mar, e disso nos fala no livro Presença do Mar na Literatura Brasileira, um interessante, original e erudito estudo de crítica literária”, ressalta.

Leitor voraz, Eidorfe Moreira formou-se me Direito em 1938, foi professor de Economia Política, ingressou no serviço público em 1945, onde permaneceu até se aposentar. Foi também professor e pesquisador da Universidade Federal do Pará, onde exerceu várias funções até se afastar em 1982. Pode-se dizer que Eidorfe passou grande parte da vida debruçado entre páginas e mais páginas de livros. É exatamente essa a lembrança que a neta dele, a contadora Anna Carolina Silva Moreira, 31, guarda na memória. “Ele era bastante introspectivo e completamente apaixonado pelos seus livros. Lembro dele reservado em sua biblioteca particular, concentrado na redação dos seus magníficos ensaios. Achava engraçado o ciúme que ele tinha do seu acervo. Aliás, o grande filósofo e amigo, Benedito Nunes, relatou em uma de suas palestras o quanto era difícil conseguir emprestar os livros de Eidorfe Moreira”, recorda.

O maior pensando da nossa história, Benedito Nunes (1929-2011) assinou a nota crítica que fez parte do prefácio dos oito volumes da coleção “Obras reunidas de Eidorfe Moreira” – publicada de forma pelo Conselho Estadual de Cultura, Secretaria de Estado de Educação e editora CEJUP, em 1989.

“A concepção geográfica a que chega Eidorfe Moreira, parte de uma ideia a respeito da espécie de conhecimento que caracteriza a Geografia. Não foi, portanto, a especulação pura, abstrata, em torno da vida, que o conduziu a uma filosofia. Pode-se dizer que ele extraiu da Geografia os delineamentos de compreensão filosófica que nela se encontram latentes e que se acham virtualmente contidos no método de conhecimento que emprega. Eidorfe Moreira considerou o que há de mais específico nessa ciência, e sem recorrer a elementos que lhe sejam estranhos, distendeu até suas extremas possibilidades o ponto-de-vista geográfico”, escreveu.

Neta de um dos três filhos de Eidorfe, Anna Carolina, acredita que a reedição de uma das obras do avô só reafirma as próprias concepções do intelectual. “O conhecimento deve ser compartilhado e jamais individualizado. Portanto, é uma honra ter a oportunidade de presenciar o resgate das reflexões de um grande mestre”, diz.

OBRAS DE EIDORFE

Amazônia – o conceito e a paisagem

Belém e sua expressão geográfica

Os igapós e seu aproveitamento

Influências amazônicas no Nordeste – reflexos da fase áurea da borracha

Sertão – a palavra e a imagem

Presença do mar na literatura brasileira

O livro didático paraense (breve notícia histórica)

Presença hebraica no Pará

As letras jurídicas no Pará

Fonte:(Diário do Pará)

Terça-feira, 20/12/2011, 02h29

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