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sábado, 2 de abril de 2011

As muitas personas de Fernando Pessoa

Com apenas 3 anos, Fernando Pessoa já juntava letras que via em jornais e revistas. Aos 4, escrevia frases inteiras. Ainda bastante jovem lia um livro por dia. Aos 18, prometia dobrar essa quantidade: “um de poesia ou literatura, outro de ciências ou filosofia”.

Foi um escriba compulsivo e ao longo de sua vida — entre 1888 e 1935 — encheu aproximadamente 30 mil papéis, o equivalente a 60 livros de cerca de 500 páginas. Diluiu o excesso de verbo em uma multidão de “autores” e chegou a usar 202 nomes diferentes, sendo 127 heterônimos.

A revelação dos novos heterônimos já seria uma novidade sobre um autor tão estudado. Mas há outra ainda maior e mais inesperada: o poeta não tinha imaginação. Quem garante é o pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho, autor do livro “Fernando Pessoa — Quase uma autobiografia” (Editora Record).

COMPLETUDE

Com quase 700 páginas, esta é a primeira biografia sobre o poeta português escrita por um brasileiro, a quarta do mundo e talvez a mais completa. Pessoa já conta com pelo menos 6 mil livros sobre sua obra, mas só dispunha, até o momento, de três biografias, escritas em Portugual, Espanha e França, entre 1950 e 1996. Cavalcanti — membro da Academia Pernambucana de Letras — passou quase uma década pesquisando o poeta que passou a admirar desde bem jovem, aos 16 anos.

A principal novidade do livro é a apresentação dos 55 heterônimos ainda desconhecidos de Pessoa. Mas entre algumas outras curiosidades está a afirmação de que um dos autores mais celebrados da língua portuguesa não tinha imaginação. A prova, segundo Cavalcanti, que chegou a entrevistar pessoas que conviveram com o autor, é que tudo o que o poeta registrou em prosa e verso não passou de uma transcrição do mundo a seu redor:

“Percebi que tudo o que ele escrevia era sobre ele mesmo, os amigos, as angústias, as inquietações literárias. Saía recolhendo datas, personagens e fatos até para compor as biografias dos seus heterônimos. Então comecei a pesquisar e tudo se encaixou”.

A vida afetiva também não foi emocionante. Cavalcanti descobriu um amante meio apático, que falava mal das mulheres, e com traços que ressaltavam a homossexualidade, embora não haja indícios de que tenha se relacionado sexualmente com homens.

“Essa tendência (homossexual) atravessa os heterônimos, sobretudo Álvaro de Campos, que era assumidamente gay. Acredito que se ele vivesse nos dias de talvez se assumisse”, supõe Cavalcanti.
Cavalcanti já tem 18 livros publicados (como autor ou co-autor), mas “Fernando Pessoa” é sua obra mais ambiciosa. A pesquisa rendeu material, inclusive, para novas publicações: ele já tem três livros planejados sobre o português.
(AG)

Um comentário:

vane campos disse...

colega vc ainda não colocou a foto dos professores de educação fisica e recreação de mocajuba.beijos