Desenvolver projetos que permitam a acessibilidade do aluno com deficiência na escola, dando condições e possibilidades para o seu desenvolvimento de forma equiparada aos demais alunos, é fomentar uma educação de qualidade a todos, com perspectivas de um futuro melhor, digno e cada vez mais inclusivo. Esse é um dos objetivos, por exemplo, do projeto “Circuito Mini Atletismo Inclusivo”, da unidade educacional Terezinha Souza, localizada no bairro Castanheira, que foi agraciado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, com a 2ª colocação no Prêmio Paratodos de Inclusão Escolar.
O Circuito Mini Atletismo Inclusivo é resultado do projeto Portas Abertas para a Inclusão, implantado na rede municipal em 2015, fruto de uma parceria entre a Prefeitura de Belém, Instituto Rodrigo Mendes, Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e Fundação Barcelona, instituição vinculada ao time espanhol de mesmo nome.
O projeto oportunizou a cada escola avaliar a melhor forma de incluir alunos com qualquer tipo de deficiência e a pensar em novas metodologias de trabalho, como jogos cooperativos, oficinas, palestras, atividades culturais e pedagógicas. “Nós decidimos levar adiante um projeto já desenvolvido aqui na escola e adequá-lo às novas metodologias. Foi aí que pensamos em mudar os paradigmas competitivos para uma prática pedagógica pautada nos princípios da inclusão”, explicou a diretora do Terezinha Souza, Cláudia Upton.
Cláudia ainda ressalta a felicidade em poder desenvolver um trabalho inclusivo cada vez mais aceito e reconhecido. “É importante esse reconhecimento, pois o trabalho realizado na rede municipal se dá de forma coletiva. Os investimentos na educação inclusiva têm sido tantos que de todo o país, apenas 15 capitais, incluindo a nossa, foram selecionadas para receber o Portas Abertas, o que resultou positivamente na evolução que os nossos alunos tiveram, e também no reconhecimento nacional de um trabalho desenvolvido com qualidade e comprometimento”, complementou.
Desenvolvido durante as aulas de educação física, o Mini Atletismo Inclusivo envolve todos os 518 alunos da unidade educacional, inclusive os 17 alunos com diagnósticos de deficiências intelectual e auditiva, paralisia cerebral, distúrbio de comportamento, hiperatividade, Transtorno do Espectro Autista (TEA) e síndromes de Turner e de Down.
Evolução
Para Lílian Nascimento, doméstica e mãe do aluno Jhony Nascimento, de 5 anos, diagnosticado com paralisia cerebral, o momento é de alegria e muita comemoração. “A escola mereceu a 2ª colocação, pois este é um projeto que estimula o desenvolvimento psicomotor dos alunos com algum tipo de deficiência. Quando matriculei meu filho no Terezinha Souza não imaginava que ele fosse evoluir tanto. O Jhony não fazia nada e hoje já escreve, conversa e até participa de atividades físicas.Esse é um grande motivo para comemorar e mostrar para as outras mães que elas não devem perder as esperanças”, ressaltou emocionada.
Marcelo Castro, 12 anos, diagnosticado com deficiência intelectual, é outro aluno da escola que também participa de atividades físicas e apresenta grande evolução. “Eu quero que todos saibam da minha história como uma vitória, porque hoje consigo fazer o mini atletismo e gosto muito. Eu fico feliz nessa aula porque posso correr e pular junto com os meus colegas”, disse.
A atividades são realizadas na quadra escolar e com o apoio de todos os educadores, os estudantes são divididos em grupos para executar as seis estações que compõem o mini atletismo. As estações são de salto sobre a corda elástica, salto triplo, salto com agilidade, salto em distância, corrida com obstáculos, arremesso de peso, lançamento de cabo de vassoura, salto com vara de bambu e corrida de revezamento.
Professor de Educação Física, Itair Medeiros, explica que com a inclusão de alunos com deficiência os movimentos foram sendo criados durante a própria execução dos exercícios, conforme as necessidades do grupo. “Queremos permitir a participação de todos, então houve algumas mudanças e flexibilizações, como por exemplo, o salto, ao invés de atirar-se de um lugar para o outro, os alunos passam de um lugar para o outro, no lançamento antes o critério era de arremessar esferas com força e agora é de abandonar um peso em um determinado ponto, e na corrida o que conta não é mais o tempo e a velocidade mais sim a conclusão da estação”, detalhou.
As estações foram montadas com o uso de materiais de baixo custo e reutilizáveis, tais como pneus, garrafas plásticas, jornais, papelão, TNT, fita, saco plástico, barbante, cabos de vassoura, corda, varas de bambu, areia e tintas, e são identificadas com placas em Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Compromisso
O comprometimento que a Prefeitura de Belém vem mostrando com a educação inclusiva vem aumentando a procura por vagas na rede municipal de ensino. Maykon Freitas da Silva, com paralisia cerebral, é um dos novos alunos da rede. As ótimas referências da Escola Terezinha Souza, justificam a escolha da mãe de Maycon ao matricular o filho na unidade. “Todos falavam muito bem das escolas do município, matriculei meu filho na unidade mais próxima que é aqui e não me arrependo. Em apenas quatro meses meu filho já se socializa com os demais, já anda de bicicleta e já participa da corrida de revezamento, e pra uma mãe isso não tem preço”, afirma.
Kaliel Gonçalves, 9 anos, é colega de Maykon e diz aprender com ele. “Nós aprendemos um com o outro, mas com ele aprendi o que é mais importante, a não desistir de nada, pois quando queremos é possível. E ele é meu colega e meu exemplo de superação”, revelou o estudante.
Investimentos
Os investimentos realizados na Educação Inclusiva resultaram no aumento significativo do número de alunos com algum tipo de deficiência matriculados na rede. Em 2013 o total de alunos com deficiência era de 483. Em 2015,chegou a 1.382. Já já em 2016 este número já chega a 2.260.
Das 73 escolas de ensino infantil e fundamental de Belém, 50 possuem as salas de recursos multifuncionais onde, duas vezes por semana, equipes formadas por psicólogos, fisioterapeutas, pedagogos, entre outros profissionais, exploram as potencialidades dos alunos, de acordo com cada limitação. Nas salas há mobílias, recursos de tecnologia assistida, como máquina braile, teclado adaptado, jogos e softwares, além de outros instrumentos que auxiliam no desenvolvimento escolar dos atendidos.
Além das salas de recursos, a Prefeitura entregou em dezembro de 2015 a sede própria do Centro de Referência em Inclusão Educacional Gabriel Lima Mendes (Crie), onde três vezes por semana os estudantes recebem atendimento educacional especializado com fonoaudiólogos, psicopedagogos e outros profissionais.
Nas escolas, os alunos contam com rampas de acesso, banheiros adaptados e placas sinalizadoras e ainda têm garantia de transporte através do ônibus escolares completamente refrigerados e adaptados com rampas elevatórias para pessoas com deficiência.
Texto: Natasha Albarado
Foto: João Gomes - NID Comus
Secretaria Municipal de Educação (SEMEC)
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